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Produtores de etanol reagem à volta de motores a diesel em carros

Produtores de etanol reagem à volta de motores a diesel em carros

produtores-de-etanol-reagem-a-volta-de-motores-a-diesel-em-carrosA retomada da produção de motores movidos a diesel em veículos leves é uma questão totalmente fora da realidade, na avaliação da União da Indústria de Cana-de-açúcar (UNICA). O setor, que em 2015 alcançou produção recorde e oferece no etanol uma alternativa de combustível menos poluente, defende que o projeto em discussão no Congresso Nacional seja vetado.

Eduardo Leão de Sousa, diretor-executivo da UNICA, lembra que o Brasil é um dos pioneiros no uso do álcool como combustível. “Com as metas que assinamos na COP21 temos a oportunidade de liderar a agenda ambiental mundial. Aprovar uma lei como essa seria é um grande retrocesso”, completa o executivo.

O impacto ambiental da introdução de motores bicombustível no país é expressivo. Em 13 anos, ao abastecer o carro com 100% de etanol, o consumidor brasileiro evitou a dispersão de 351.987.394 toneladas de CO2 na atmosfera. O consultor de Emissões e Tecnologia da UNICA, Alfred Szwarc, afirma que essa marca é superior à soma das emissões anuais de cinco países sul-americanos.

“Hoje, o mundo tem o desafio de descarbonizar o segmento automotivo. Neste esforço para substituir fontes fósseis por renováveis, dentre os combustíveis carburantes líquidos, o etanol se apresenta como a melhor solução por conta da sua insuperável capacidade de redução das emissões de CO2, que pode ser de até 90% se comparado à gasolina e 80% em relação ao diesel”, observa Szwarc.

O volume mitigado é muito maior do que as quantidades de poluentes emitidas em 2014 por Argentina (190 milhões t), Peru (53,1 milhões t), Equador (35,7 milhões t), Uruguai (7,8 milhões t) e Paraguai (5,3 milhões t). A redução não computa o que foi evitado pela frota remanescente de cerca de 777 mil veículos movido exclusivamente a etanol, bem como por mais de 4 milhões de motocicletas, 58 ônibus (na cidade de São Paulo) e cerca de 500 aviões agrícolas (Ipanema) que também utilizam o biocombustível.

No Brasil, 90% dos veículos leves novos licenciados são equipados com tecnologia flex. Mais de 25 milhões de automóveis brasileiros rodam com etanol, gasolina ou a mistura dos dois combustíveis em qualquer proporção, o que representa aproximadamente 68% da frota de veículos leves em circulação.

São mais de 200 modelos produzidos por 19 montadoras instaladas no país.

Manifesto
Começa a circular um manifesto de repúdio ao Projeto de Lei 1.013/2011, que segue em votação na Câmara dos Deputados sob o olhar atento de membros de órgãos interessados da cadeia de combustíveis e do setor automotivo.

Documento organizado pelo Observatório do Clima e encaminhado para a comissão temática reúne assinaturas de membros da comunidade médica, científica, de ambientalistas e de órgãos que atuam em defesa do consumidor. Também conta com a chancela de cinco ex-ministros do Meio Ambiente: Rubens Ricupero, José Carlos Carvalho, Marina Silva, Carlos Minc e Izabella Teixeira.

Para os signatários, o PL precisa ser arquivado dado o impacto que a aprovação causaria à saúde pública. Uma introdução em massa de motores a diesel no país vai na contramão da tendência mundial de mitigar a emissão de gases poluentes pelo transporte – Paris e Londres vão banir esses carros de suas ruas até 2020;  reduziria o consumo do etanol – que vem quebrando recordes de produção – e prejudicaria ainda mais a economia por forçar o país a importar o óleo diesel, encarecendo o transporte de cargas.

“É incrível que ainda tenhamos gente no Brasil que aposta no obsoleto para justificar ganhos de curto prazo. O mundo caminha na direção da economia de baixo carbono e do crescimento inclusivo. O país que mostrou ao mundo o caminho dos biocombustíveis não pode ter como escolha usar diesel em seus carros de passeio. Não é só uma medida absurda ou extemporânea. É inaceitável”, disse a ex-ministra Izabella Teixeira.

De acordo com André Ferreira, diretor-presidente do Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente), organização integrante do Observatório do Clima, o projeto está na contramão dos esforços para reduzir emissões de gases de efeito estufa. “Deveríamos estar discutindo como viabilizar um combustível renovável em substituição ao diesel, e, não o oposto. Os veículos leves a diesel concorrerão diretamente com os automóveis flex e, portanto, com o etanol. Sem falar que se trata de uma barreira a mais para o avanço da eletricidade no setor de transportes.”

Paulo Saldiva, médico que coordena o Instituto de Estudos Avançados da USP, afirma que a concretização da proposta é um risco iminente à saúde de milhões de habitantes de metrópoles brasileiras. “Os veículos a diesel são as principais fontes de compostos como particulados finos e óxidos de nitrogênio e enxofre, que causam problemas sérios de saúde. Deveríamos discutir como ampliar o transporte coletivo e reduzir o uso de diesel, mas o projeto propõe o inverso: mais transporte individual e mais diesel. Ou seja, mais congestionamento, ar mais poluído e, potencialmente, mais mortes precoces.”

“O Brasil não tem políticas suficientemente robustas para mitigar os impactos ambientais dos carros a diesel”, afirma Cláudio Considera, presidente do Conselho Diretor da Proteste Associação de Consumidores. “Antes de considerar a suspensão das restrições de carros a diesel, a União deveria implementar outras medidas que visam proteger a saúde e qualidade do ar provocadas pelas fontes energéticas já existente, como gasolina, álcool e o próprio diesel em veículos leves comerciais e veículos pesados”, afirmou.

Para Jorge Abrahão, diretor-presidente do Instituto Ethos, há um risco adicional na proposta – o da credibilidade internacional do Brasil. “A aprovação na comissão da Câmara de Deputados do PL do diesel será um grave retrocesso em relação aos compromissos assumidos pelo Brasil na COP21. O Brasil tem a oportunidade de ser um dos líderes da agenda do clima com preservação e inclusão social, mas decisões como esta trarão insegurança e colocarão em risco os investimentos e empregos na direção da economia de baixo carbono”, diz.

Tramitação
A proposta já foi rejeitada na Câmara pela Comissão de Meio Ambiente. A votação de parecer do relator pela comissão especial, que ocorreria no início deste mês, foi adiada. Entre os principais motivos da suspensão estão as dúvidas sobre a capacidade de abastecimento dos veículos.

Parecer favorável à medida enfatiza o aumento da produção de petróleo e gás natural nas últimas décadas. A produção nacional de petróleo saltou de aproximadamente 200 mil por dia, em 1976, para cerca de 2,2 milhões de barris, em 2014. Volume que, de acordo com apoiadores da proposta, garante a autossuficiência. O refino do petróleo também aumentou de 694 mil barris por dia, há quarenta anos, para 2,4 mil, no ano passado.

Já quem faz oposição ao projeto garante que a produção interna é insuficiente e que o Brasil estaria nas mãos do mercado externo. Além disso, avaliam que liberar carros a diesel seria um retrocesso na política ambiental do Brasil, que é referência mundial.

Pesquisa da Universidade da Califórnia mostra que apenas 10% dos veículos da Califórnia utilizam o diesel, porém essa minoria é responsável por cerca de 60% da produção de aerossóis orgânicos secundários (AOS), partículas nocivas à saúde humana. O diesel é responsável por 80% da emissão dessas partículas nos Estados Unidos.

A produção e a comercialização de veículos de passeio movidos a diesel foram proibidas há 40 anos pelo Ministério da Indústria e Comércio, que naquele tempo, vivia a crise do petróleo e encontrou no álcool uma saída para depender menos do diesel importado.

Nos últimos anos, a proibição é sustentada com argumentos como o potencial poluidor do diesel ou o preço dos veículos com o propulsor, que precisam ser mais robustos e, desta forma, mais caros.

Fonte: Radar Nacional

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